quinta-feira, 28 de abril de 2011

Primeira exposição



Entre aquarelas, poesias, filosofia
olhos, jabuticabas, estatelados sorriam
para cores e signos,
enquanto meus braços num abraço
onde não cabe tamanho amor


quarta-feira, 27 de abril de 2011

A descoberta

Meados de abril e eu com aqueles conhecidos sintomas pré-mestruais. Os seios inchados e doloridos, certa impaciência e um calendário que apontava para a solução disso; assim que ela descer, viro gente de novo, pensava. Estava no Rio de Janeiro, tinha acabado de alugar um apartamento no ponto mais nobre de Ipanema – na Rua Nascimento Silva, entre Joana Angélica e Maria Quitéria. A tão sonhada mudança para a cidade maravilhosa, a carreira internacional, as viagens, as milhas, os cartões fidelidade, o networking, a vida perto do mar, o glamour de uma capital culturalmente mais efervescente do que a provinciana Beagá, tudo o que eu achava que era importante na minha vida, de repente, foi colocado à prova.


Na semana da descoberta, antes mesmo de me mudar para o apartamento, fui fazer uma coisa rara – visto que eu estava morando num aparthotel –, algo para comer, e ao quebrar o ovo tive a surpresa de encontrar duas gemas. Achei engraçado e na solidão de uma quase-mudança de cidade, compartilhei com meus amigos no facebook o acontecido. Dentre todos os tipos de respostas, uma assim: pode ser um sinal…


Sinal de quê?


Coincidências à parte, acordei no meio da madrugada seguinte com a mão na barriga. Para livrar-me de uma ansiedade desnecessária, comprei logo um teste de farmácia e fiz no primeiro xixi da manhã. Era só para chegar em Beagá no dia seguinte tranquila, caso me perguntassem eu diria, tá tudo certo, fiz o teste ontem. Já havia feito desse teste antes, mas nunca recebi o produto das mãos de uma atendente que sorrisse tanto para mim. Muito esquisito.


Duas listras quer dizer grávida, uma listra quer dizer não grávida, mas aqui tem duas listras, duas listras quer dizer grávida, uma listra não grávida, mas aqui tem duas, não tem uma só, devia ter, mas não tem! Coloquei o teste lado a lado com as instruções e estava lá, meu teste, igualzinho o positivo da bula. Eu tremia, chorava, ria, sentia medo, negação, olhava a barriga no espelho, tudo ao mesmo tempo. Já sofria só de pensar em como daria a notícia, no que eu faria se fosse sozinha, no que eu faria se fosse junto, no que eu não faria, enquanto, descabelada, dentro de um táxi, ia para um laboratório fazer um exame de sangue. Mais uma pessoa que me atendeu demasiadamente sorridente e o sorriso se alargou ainda mais quando contei o ocorrido. Para me "tranquilizar” disse, minha filha, se deu positivo o de farmácia, você está mais que grávida, seus hormônios já estão lá nas alturas!


E a essa altura, mal sabia eu que um danado de um flagelinho sapeca era o ator principal da maior descoberta da minha vida até então: que eu não fazia a menor idéia do que é importante na vida. E o mais incrível, a noção nem chega assim…vem vindo em doses homeopáticas a cada mudança desencadeada pela fusão de amor que me salvou e que vai salvar esse mundão doente que a gente deixou de herança para os nossos pequeninos e pequeNinas.



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Novo parto




É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, tanta coisa circulando em tantos canais virtuais e presenciais - cada vez mais virtuais, fato - que, por várias vezes, quis parar para escrever, mas desisti. Coisas bacanas sobre a minha gestação, da emoção do parto já com as primeiras quebras de conceitos e, depois, sobre a existência de um serzinho, que nasceu tão cheio de possibilidades e que vai se revelando, dia-a-dia.


Aí dá vontade escrever sempre. Quando vejo uma carinha diferente, quando vejo os primeiros tudo, o sorriso, aquele olhar, quando ela passa a reconhecer os mais próximos, a cara quando o pai chega do trabalhor barbarizando, quando começa a se comunicar, a balbuciar, formar as primeiras silabas, se divertir comigo, com aquilo, consigo mesmo. Tudo o que acontece dá vontade de contar.


Dá vontade de escrever sobre a explosão de amor e do pânico da finitude que, de repente, invadiu minha alma e tomou conta de todas as noites e todos os sonhos, porque o sono, já era. Clichê, verdade. Sono alerta e sonhos trazem à tona os medos que me cercam o dia inteiro pelo peso - tão leve! - da responsabilidade de cuidar desse serzinho, sorridentemente banguelo e desarmador, desacelerador, desmascarador. De tanta vontade de escrever sobre tanta coisa, foi ficando cada vez mais difícil e a sobrecarga de informações por aí me faz pensar, para quê? Tanta gente já escreveu sobre isso. Tanta gente escreve. É tanta coisa. Tanto item.


Mentira. É que a intensidade dos acontecimentos e a felicidade de ter a oportunidade de viver cada dia dessa vida singular com a pessoinha que está dormindo no quarto ao lado - uma coisa linda, no bercinho, luz apagada, até amanhã de manhã - e que, mesmo chorando de fome, abre um sorriso enorme - e ainda banguelo! - quando colocamos nossa cara na frente dela, claro, para depois voltar a chorar, tem sido muito maior que qualquer vontade de me expressar, ou me relacionar com o mundo, seja como for.


Para parar e escrever era preciso entender como estou agora que as coisas estão bem diferentes dentro de mim, como rever se importa para mim se vou conseguir um texto legal ou mais ou menos, se meu cabelo está bonito grande ou fica melhor curto, se minha pele melhorou ou se está demorando muito, se prefiro ser executiva de multinacional ou dona de casa, se sou mais ou menos bonita que x ou y, se tenho 300 amigos no facebook ou dois que fazem tudo por mim na minha vida real, se estou muito magra ou se devo ir correndo para academia, para depois postar minha foto de frente pro espelho e de costas para a única verdade que existe. No fim das contas, o destino de todo mundo é o mesmo; o fim.


E até hoje não tinha me dado vontade de escrever, até eu ter vontade de escrever o que já foi escrito muitas vezes. O tempo é curto, voa, a vida e uma só, e a gente pode escolher viver de aparências, de se gabar de ter coisas bonitas e caras, de conhecer lugares exóticos, de viver usando máscaras, se achando mais bonito ou mais legal ou mais descolado que o outro, ou pode escolher outra coisa. Tipo dizer sim, primeiro. E ser gentil, primeiro. Fazer companhia ao outro, dar o lugar, passar a vez, chegar em segundo, o que que tem? Pedir desculpas, pedir a mão, estender a mão, abrir mão. Mudar de idéia, pensar bem, voltar atrás. Relevar e perdoar. E escrever para os que vão ficar mais um tempo depois da gente, menos sobre a gente e mais sobre coisas alegres. Mesmo que sejam escritas porque estamos tristes naquele dia. Geralmente é assim, porque a felicidade é tão sublime e o tempo a engole tão rapidamente, que é melhor não perder tempo escrevendo. Melhor é degustá-la, feito comidinha de mãe... É isso. Não escrevi até então, porque hoje sou mãe.